terça-feira, 2 de outubro de 2012

Parte IV

     Acho que perdi a menininha. Faz tanto tempo que não a vejo, não a sinto. Faz muito tempo que não a vivo. Não sei em qual ponto do caminho eu deixei de sofrer, perdi meus horizontes tão literários.
     Agora me vejo quase menina, observando os trejeitos da mulher que desfila suas órbitas insinuantes. As vezes me acho quase disléxica.
     Encontrei um amor, e tão diferente do que sonhei, pintei, e todos os eis que imaginei, é morno uma hora, n'outra intenso e voraz. Consome meu tempo, meu lirismo, minhas linhas.
     Poderia bem dizer que sou um ser humano recém chegado a outra dimensão, com algumas lembranças da outra vida.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Parte III

     Visto que nada conseguia acalentar seu coração, pensou.. Talvez pela última vez..
     "Nunca houvera um silêncio tão cheio quanto o seu..
Sei das vezes que falhei, mas não carrego essa culpa sozinha..
Houve brechas que te dei, houve tempo para hesitar, houve tempo para desistir.."
     As palavras da menininha estavam acabando, suas lágrimas não brotavam como antes. Ela quis só uma vez, desejou com todo o seu ser saber o que era o amor, mas dessa vez nenhuma resposta veio do céu, nenhum vento frio, nada..
     Não houve braços para abraços, nem peito para aconchego.. Nem ela acreditava em sua cena.

quinta-feira, 26 de abril de 2012


     Ela chegou aonde quis, mas chegou só, chegou doída..
     Não sabia nem hesitar explicar o porquê de um caminho tão embaraçoso e constrangedor.
     Seu maior pecado foi querer amar, e sempre mentir a si mesma.
     E disse: “Não sei, só sei que foi assim, ou não, talvez tenha sido – para minha sorte – apenas mais um pesadelo em que acordei assustada na cama vazia”.
     E doeu, como nunca antes, doeu por saber que suas feridas ainda estavam ali, tão vivas como no momento em que foram concebidas. Ela quis chorar, mas há muito já não estava em seu mundo.
     A menininha se esticou tanto para crescer que conseguiu, mas quando alcançou o topo da colina percebeu que nem de longe era o lugar que encenou seus sonhos.
     Quis fazer cena, mas sua garganta não proferiu nenhum grito d’alma, seus olhos secaram, e seus joelhos se mantiveram firmes.
     E lá de pé, no alto da colina, ela fechou os olhos e imaginou...

            “O som de sua voz ecoava dentro de mim me fazendo sentir tão feliz que poderia chorar. Seus traços, seus movimentos, pareciam estar em câmera lenta. Ele era a personificação das minhas letras, do meu eu mais íntimo e secreto.
            Desvendava-me com seu meio sorriso.
Ali permanecemos, sob o tom amarelado do fim do dia, nos enamorando.”

quarta-feira, 11 de abril de 2012

     Então, como ousas?
     Se te busquei de um passado longínquo foi para te mostrar meu sorriso..
Não pode despertar dores que guardo num quarto fechado de mim
que não te apresentei.
     Te coloquei sentado no mato,
te fiz manso e disse baixinho:
"Espera!
Espera que já venho com o meu eu que deixei alí atrás"
     Poderia ao menos ter fugido..
mas não..
Você ainda brincou com aquela garotinha, a fez sorrir..
     Ela sorriu um som melodioso
que encantou todos que passavam,
ela te olhou com olhos cintilantes..
     Aquela garotinha entrelaçou seus dedos nos teus e te desconcertou,
 te disse: "Vamos.."
     Você deu cinco passos
e parou, 

virou as costas depois de empurrá-la no chão
e foi-se embora.
     Eu sobrevivi e me fiz forte,
me fiz mulher,
te provei a minha audácia..
     Então te busquei..
E tu ousas mexer com meu coração..
     Como ousas?

quarta-feira, 28 de março de 2012

Então meu caro amigo, "Quando lhe faltei?", eu perguntei. Tu me concedeste apenas o silêncio..
Terá sido todas as vezes que preferi a mim? Ou talvez as vezes que lhe joguei diante dos leões para salvar minha carcaça podre?
Diga-me por favor, onde errei? Eu juro que não consigo ver..
Pobre de mim, que só quis que o mundo inteiro se ajoelhasse aos meus pés.
Como tu ousas renegar-me tal benevolência, tu apenas precisou me amar, se doar por inteiro a mim, me preferir a ti. Era tanto?
...
Como pude não ver tamanho mosntro havia me tornado. A tua morte seria uma escolha ao ceder-lhe um sorriso..
Como não vi o amor que tinha em mãos, um amor tão belo, doce, que transcendia qualquer mundo, qualquer explicação..

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Dreamer

E ali permaneceu a menininha culta, de belos textos escondidos, vagando seu olhar num horizonte de distrações.
Esperando que um dia o seu príncipe surgisse diante dos olhos e a despertasse de seu torpor.
Sentindo dores que nunca foram suas, lamentando a perda do que nunca lhe fora dado, do que nunca tivera em mãos. Mas só porque ela queria sentir algo, dor que fosse, ao invés do vazio.
Por várias vezes a menininha roubava olhares do pares enamorados para saber como era ser olhada. Frustrava-se todavia, pois sabia da inverdade de sua tese.
Talvez por ocupar-se de querer o que não lhe pertencia, acabou por se amendrontar diante do que podia ter. A menininha teve medo de viver.
Também pudera, morreria se tentasse enumerar todos os ogros que encontrou em sua trilha de fantasias. A cada encontro, uma parte de seu cenário era arrancada brutalmente.
Hoje a menininha encontra-se num mundo sujo e destruído. Onde pessoas e flores se levantam para recomeçar.
Mas ela... Ela continua sentada observando o por do sol.